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O segredo da pasta de pimenta do Borogodó começa nas variedades.

Pimenta

VAMOS FALAR DE PIMENTAS?

Segue (o resumo da) discussão sobre esse frutinho delicioso e picante, nativo de Abya Yala e que permeia diversas culturas indígenas, não só como alimento, mas algo de extremo valor espiritual, nutricional e cultural

Primeiro de tudo, vamos diferenciar os termos porque em português-brasileiro pode referir-se tanto às espécies do gênero Capsicum (as que vamos abordar neste tópico) como as do gênero Piper (ex. pimenta-do-reino, pimenta-preta) e do gênero Pimenta (ex. pimenta-da-Jamaica).

Em espanhol há muitos termos para a nossa pimenta nativa Capsicum , como pimiento , chile, ají, axí ou guindilla … E as pimentas do gênero Piper que são mais conhecidas como pimienta ou guindillo-de-Índia.

Os moedores com pimenta-preta que europeus usavam contém piperina, em pequena quantidade.

O spray de pimenta é feito a partir da herança da capsaicina, encontrada nas pimentas do gênero Capsicum só após séculos da invasão de Colombo.

Por que é importante entender a diferença?

Porque, por muitas vezes, é de senso comum associarmos pimenta à gastrite, úlcera, inflamações intestinais, hemorroidas… Quem nunca ouviu piada sobre “arder pra entrar e pra sair”?

As pimentas Capsicum não causam problemas gastrointestinais. Elas contém capsaicina , aceleram o metabolismo, são antioxidantes, fonte de vitaminas C e E, potássio, fósforo, é antibiótica, anticancerígena e analgésica.

Leia mais no artigo, em inglês: Capsicum annuum (pimenta): Uma antiga cultura latino-americana com excelentes compostos bioativos e potencial nutracêutico.

Se você já tem uma inflamação nunca se deve exagerar com qualquer alimento, até pq normalmente acompanham outros temperos, como vinagre, sal etc, mas a ideia de que essa pimenta causa hemorroida, apesar de bastante difundida, é falsa.

Pimenta é antioxidante e libera endorfina; veja 5 benefícios do alimento

A pimenta-do-reino é um tipo que se deve evitar o consumo exagerado. Esse fruto contém piperina , e quando usado moído, penetra com mais facilidade nas paredes intestinais e na corrente sanguínea, podendo entupir artérias, causando hemorroidas.

A pimenta é uma riqueza!

E quem já sabia disso? Os povos indígenas!

A pimenta surgiu na região do Alto Peru, que inclui a bacia do Lago Titicaca, no território onde hoje é a Bolívia, segundo diversos estudos paleobotânicos que analisaram o DNA vegetal das espécies.

Surgiu na região mesoandina, nos vales da região de Cochabamba e Chuquisaca. O botânico W. Hardy Eshbaugh, professor na Universidade de Miami, encontrou nos anos 70 a semente silvestre mãe de todas as pimentas.

Lhes apresento a ULUPICA ( Capsicum cardenasii ):

Rita del Solar e Lupe Andrade, fizeram um estudo cuidadoo das pesquisas de Eshbaugh e publicaram a história no livro Ají, regalo de Bolívia al mundo (Pimenta, presente da Bolívia para o mundo), ainda sem tradução em português.

A ulupica (palavra de origem quíchua) surgiu cerca de 10 mil anos atrás, e até hoje é usada com tomate no preparo da llajua, o famoso molho picante andino. Entretanto, não é plantada em larga escala, apenas em hortas familiares, continuando a ser considerada um fruto silvestre.

CURIOSIDADE: Sabe quem amava pimenta? Che Guevara!

Ele comia bastante pimenta para aliviar suas crises de asma.

Sua última janta antes de ser capturada e assassinada foi um prato de sopa de maní (sopa de amendoim) com llajua, em La Higuera, na Bolívia.

São importantes pra diversos povos nativos, e se até hoje há este traje de comer pimenta, devemos a herança das culturas indígenas, que domesticaram várias espécies através dos séculos. Lembra que falei dos nomes da pimenta em espanhol?

30 formas distintas de chamar a los pimientos

A palavra “chile” para definir as pimentas vem do Náhuatl xilli, idioma dos povos astecas, e é muito utilizada no México atual, sul dos EUA e países da mesoamérica para se referir a pimenta. Nada a ver com Chile ok?

Sabe aquele prato apimentado, chili? O nome vem daí.

Os astecas tinham armas bastante sofisticadas, uma delas foi documentada em História Geral das Coisas da Nova Espanha , escrita por frei Sahagún.

A fumaça das malaguetas jogadas no fogo foi usada como gases lacrimogêneos são usados ​​hoje.

A pimenta tinha valor espiritual. Segundo Sahagún, no festival Huey Tozoztli, a deusa Chicomecóatl recebeu várias ofertas com alimentos, incluindo pimenta.

Na imagem, ao lado de duas espigas de milho, à esquerda dos pés de Chicomecóatl, há uma caixa com pimentas.

Já as palavras ají e axí vem do tronco arawak, do idioma dos povos Taíno das Antilhas, os primeiros a ter contato com Colombo, que chegou à ilha La Hispaniola, hoje atual Haiti e Rep. Dominicana. Conheceu a Capsicum annumm , espécie de pimentão, com mts variedades.

O frei Bartolomé de las Casas escreveu:

“Tinha muito algodão ali, […]muita mástique, […] tem também muito axí, que é a sua pimenta, que vale mais que a pimenta (a preta), e todos não comem sem, acho muito saudável: podem carregar 50 caravelas por ano naquela Española.”

No documentário feito pelo canal Trece Colombia, Ají, Plantas de Poder , vemos o povo Kubeo, que habitam a atual Colômbia e também o norte do Brasil, falando sobre a importância da pimenta na cosmovisão deles.
 

 E para os povos andinos não é diferente. A pimenta é tão presente na nossa culinária, que tem registros em cerâmicas pré-colombianas. Essa cerâmica Nazca já tinha desenhos de pimenta, de cerca de 200 AEC (Museu Larco – Lima, Peru).

Muitas obras de povos andinos dos períodos Nazca, Moche, Paracas, Incaico entre outros estão disponíveis na galeria online do site do Museu Larco. Aqui vemos três esculturas onde a pimenta é representada. Visitem o Museu Larco !

Cieza de León, escreveu, sobre a importância da pimenta para os povos andinos:

“E para celebrar o Inti Raymi com maior devoção e solenidade, jejuaram 10 ou 12 dias abstendo-se de comer, e não dormir com suas esposas […]; e não comem pimenta nem trazem coca na boca […]”.

Em quíchua, pimenta é uchu, mesmo assim é bastante comum nos países andinos chamá-la de ají, influência dos comerciantes espanhóis. O nome uchu figura em vários pratos da culinária andina, como em Chiriuchu, Cariucho, Uchujacu, Fideos Uchu, pratos maravilhosos.

Chiri Uchu é o prato tradicional da cidade de Cusco que significa “pimenta fria” ou “picante frio” em quechua. Este prato é da época do Império Incaico e da colônia, combina do altiplano peruano, da costa e da selva, que o torna o prato estrela da culinária de Cusco, composto por algas, ovo, cuy (porquinho-da-índia), frango, charque (carne seca), chouriço (morcilla), batata, milho, queijo e locoto.
O cariucho na verdade, é uma guarnição, que pode ser consumida como prato principal. Pode ser uma batata grande cozida ou fatias de batata e molho de amendoim, servida com alface, ovo cozido e talvez tomate. Você também pode ter fatias de cebola. Pode acompanhar cuy (porquinho-da-índia), cortes de frango e carnes fritas.
Uchu Jacu, “farinha picante“ em quechua, na verdade é uma farinha tradicional de seis grãos ou mais que forma uma sopa muito tradicional da região de Cayambe, no norte da província equatoriana de Pichincha.
O ají de fideo ou mais conhecido como macarrão uchu (fideo uchu) é um prato muito original do vale boliviano, é um prato que, quem sabe preparar, se encontra diariamente nas feiras de alimentos. O seu sabor e picante incomparáveis ​​​​fazem deste prato um dos mais desejados, principalmente às quintas-feiras, tem como base macarrão, batata, carne de boi ou frango picado ou alguma variante, com vegetais como ervilha, feijão e por fim decoram um pouco de salsa picada.
Uchu Jacu, “farinha picante“ em quechua, na verdade é uma farinha tradicional de seis grãos ou mais que forma uma sopa muito tradicional da região de Cayambe, no norte da província equatoriana de Pichincha.

Durante o período do Império Incaico, a pimenta também foi utilizada como arma e como moeda de troca, o chamado rantii, descrito no livro Ajíes peruanos, sazón para el mundo (Pimentas peruanas, tempero para o mundo), ainda sem tradução.

Nativas dos Andes, a mais comum é a locoto ( Capsicum pubescens ), uma espécie que parece uma maçã, e possui sementes pretas. Atualmente é o mais utilizado no preparo da llajua e outros pratos pois é mais comum de encontrar, já que é produzido em larga escala.

A capsaicina é o que faz a pimenta arder, certo? A capsaicina está concentrada principalmente na placenta da pimenta, aquela membrana de cores mais clara que une as sementes à polpa. Agora, um pouquinho de anatomia, pra entenderem:

As sementes ficam grudadas na placenta, por isso muita gente acha que elas fazem arder. Pra arder menos, é só abrir e remover a placenta com uma faca afiada. E não adianta tomar água, a capsaicina é lipossolúvel, ou seja, solúvel em óleo. Não aguenta? Bebe leite!

O gênero Capsicum é pertencente à família Solanaceae, principalmente à família Silva das plantas, abrigando diversos alimentos, como beringela, jiló, tomate…

Composto por cerca de 30 espécies, apenas 5 são domesticadas de fato, com algumas variedades entre si de ardência.

Aqui alguns exemplos comuns:

  1. annumm (pimentão, jalapeño, páprica)
  2. baccatum (dedo-de-moça, ají, cumari, cambuci)
  3. chinense (biquinho, bode, habanero)
  4. frutescens (malagueta)
  5. pubescens (locoto, pimenta-maçã)

Dicas de plantio que funcionam para diversas espécies:

Plante em ambientes quentes, é uma planta tropical

Quanto mais sol, melhor!

Mantenha o solo úmido, cubra com folhas, cascatas, serragem

Poda regular, ajuda na renovação foliar

Solo fértil, bastante adubação, pH neutro

As folhas também são comestíveis! Podem ser usados ​​em chás, refogadas, na sopa e em saladas, além de servir como remédios em unguentos, pastas, pomadas para tratar furúnculos, artrites, etc.

Por enquanto isso é quase tudo, mas poderia falar horas a fio sobre pimenta!

AH, AINDA EM TEMPO. Lembrem-se de uma coisa: não existiriam essas variedades se não fosse o conhecimento indígena de agricultura que atravessou séculos mesmo com a colonização. Agradeça aos indígenas, sobretudo hoje, por ter tantos sabores no seu prato.

VAMOS FALAR DE PIMENTAS? Segue (o resumo da) discussão sobre esse frutinho delicioso e picante, nativo de Abya Yala e que permeia diversas culturas indígenas, não só como alimento, mas algo de extremo valor espiritual, nutricional e cultural

Primeiro de tudo, vamos diferenciar os termos porque em português-brasileiro pode referir-se tanto às espécies do gênero Capsicum (as que vamos abordar neste tópico) como as do gênero Piper (ex. pimenta-do-reino, pimenta-preta) e do gênero Pimenta (ex. pimenta-da-Jamaica).

Em espanhol há muitos termos para a nossa pimenta nativa Capsicum , como pimiento , chile, ají, axí ou guindilla … E as pimentas do gênero Piper que são mais conhecidas como pimienta ou guindillo-de-Índia .

Os moedores com pimenta-preta que europeus usavam contém piperina, em pequena quantidade.

O spray de pimenta é feito a partir da herança da capsaicina, encontrada nas pimentas do gênero Capsicum só após séculos da invasão de Colombo.

Por que é importante entender a diferença?

Porque, por muitas vezes, é de senso comum associarmos pimenta à gastrite, úlcera, inflamações intestinais, hemorroidas… Quem nunca ouviu piada sobre “arder pra entrar e pra sair”?

As pimentas Capsicum não causam problemas gastrointestinais. Elas contém capsaicina , aceleram o metabolismo, são antioxidantes, fonte de vitaminas C e E, potássio, fósforo, é antibiótica, anticancerígena e analgésica.

Leia mais no artigo, em inglês: Capsicum annuum (pimenta): Uma antiga cultura latino-americana com excelentes compostos bioativos e potencial nutracêutico.

Se você já tem uma inflamação nunca se deve exagerar com qualquer alimento, até pq normalmente acompanham outros temperos, como vinagre, sal etc, mas a ideia de que essa pimenta causa hemorroida, apesar de bastante difundida, é falsa.

Pimenta é antioxidante e libera endorfina; veja 5 benefícios do alimento

A pimenta-do-reino é um tipo que se deve evitar o consumo exagerado. Esse fruto contém piperina , e quando usado moído, penetra com mais facilidade nas paredes intestinais e na corrente sanguínea, podendo entupir artérias, causando hemorroidas.

A pimenta é uma riqueza!

E quem já sabia disso? Os povos indígenas!

A pimenta surgiu na região do Alto Peru, que inclui a bacia do Lago Titicaca, no território onde hoje é a Bolívia, segundo diversos estudos paleobotânicos que analisaram o DNA vegetal das espécies.

Surgiu na região mesoandina, nos vales da região de Cochabamba e Chuquisaca. O botânico W. Hardy Eshbaugh, professor na Universidade de Miami, encontrou nos anos 70 a semente silvestre mãe de todas as pimentas.

Lhes apresento a ULUPICA ( Capsicum cardenasii ):

Rita del Solar e Lupe Andrade, fizeram um estudo cuidadoo das pesquisas de Eshbaugh e publicaram a história no livro Ají, regalo de Bolívia al mundo (Pimenta, presente da Bolívia para o mundo), ainda sem tradução em português.

A ulupica (palavra de origem quíchua) surgiu cerca de 10 mil anos atrás, e até hoje é usada com tomate no preparo da llajua, o famoso molho picante andino. Entretanto, não é plantada em larga escala, apenas em hortas familiares, continuando a ser considerada um fruto silvestre.

CURIOSIDADE: Sabe quem amava pimenta? Che Guevara!

Ele comia bastante pimenta para aliviar suas crises de asma.

Sua última janta antes de ser capturada e assassinada foi um prato de sopa de maní (sopa de amendoim) com llajua, em La Higuera, na Bolívia.

São importantes pra diversos povos nativos, e se até hoje há este traje de comer pimenta, devemos a herança das culturas indígenas, que domesticaram várias espécies através dos séculos. Lembra que falei dos nomes da pimenta em espanhol?

30 formas distintas de chamar a los pimientos

A palavra “chile” para definir as pimentas vem do Náhuatl xilli, idioma dos povos astecas, e é muito utilizada no México atual, sul dos EUA e países da mesoamérica para se referir a pimenta. Nada a ver com Chile ok?

Sabe aquele prato apimentado, chili? O nome vem daí.

Os astecas tinham armas bastante sofisticadas, uma delas foi documentada em História Geral das Coisas da Nova Espanha , escrita por frei Sahagún.

A fumaça das malaguetas jogadas no fogo foi usada como gases lacrimogêneos são usados ​​hoje.

A pimenta tinha valor espiritual. Segundo Sahagún, no festival Huey Tozoztli, a deusa Chicomecóatl recebeu várias ofertas com alimentos, incluindo pimenta.

Na imagem, ao lado de duas espigas de milho, à esquerda dos pés de Chicomecóatl, há uma caixa com pimentas.

Já as palavras ají e axí vem do tronco arawak, do idioma dos povos Taíno das Antilhas, os primeiros a ter contato com Colombo, que chegou à ilha La Hispaniola, hoje atual Haiti e Rep. Dominicana. Conheceu a Capsicum annumm , espécie de pimentão, com mts variedades.

O frei Bartolomé de las Casas escreveu:

“Tinha muito algodão ali, […]muita mástique, […] tem também muito axí, que é a sua pimenta, que vale mais que a pimenta (a preta), e todos não comem sem, acho muito saudável: podem carregar 50 caravelas por ano naquela Española.”

No documentário feito pelo canal Trece Colombia, Ají, Plantas de Poder , vemos o povo Kubeo, que habitam a atual Colômbia e também o norte do Brasil, falando sobre a importância da pimenta na cosmovisão deles.

E para os povos andinos não é diferente. A pimenta é tão presente na nossa culinária, que tem registros em cerâmicas pré-colombianas. Essa cerâmica Nazca já tinha desenhos de pimenta, de cerca de 200 AEC (Museu Larco – Lima, Peru).

Muitas obras de povos andinos dos períodos Nazca, Moche, Paracas, Incaico entre outros estão disponíveis na galeria online do site do Museu Larco. Aqui vemos três esculturas onde a pimenta é representada. Visitem o Museu Larco !

Cieza de León, escreveu, sobre a importância da pimenta para os povos andinos:

“E para celebrar o Inti Raymi com maior devoção e solenidade, jejuaram 10 ou 12 dias abstendo-se de comer, e não dormir com suas esposas […]; e não comem pimenta nem trazem coca na boca […]”.

Em quíchua, pimenta é uchu, mesmo assim é bastante comum nos países andinos chamá-la de ají, influência dos comerciantes espanhóis. O nome uchu figura em vários pratos da culinária andina, como em Chiriuchu, Cariucho, Uchujacu, Fideos Uchu, pratos maravilhosos.

Chiri Uchu é o prato tradicional da cidade de Cusco que significa “pimenta fria” ou “picante frio” em quechua. Este prato é da época do Império Incaico e da colônia, combina do altiplano peruano, da costa e da selva, que o torna o prato estrela da culinária de Cusco, composto por algas, ovo, cuy (porquinho-da-índia), frango, charque (carne seca), chouriço (morcilla), batata, milho, queijo e locoto.

O cariucho na verdade, é uma guarnição, que pode ser consumida como prato principal. Pode ser uma batata grande cozida ou fatias de batata e molho de amendoim, servida com alface, ovo cozido e talvez tomate. Você também pode ter fatias de cebola. Pode acompanhar cuy (porquinho-da-índia), cortes de frango e carnes fritas.

Uchu Jacu, “farinha picante“ em quechua, na verdade é uma farinha tradicional de seis grãos ou mais que forma uma sopa muito tradicional da região de Cayambe, no norte da província equatoriana de Pichincha.

O ají de fideo ou mais conhecido como macarrão uchu (fideo uchu) é um prato muito original do vale boliviano, é um prato que, quem sabe preparar, se encontra diariamente nas feiras de alimentos. O seu sabor e picante incomparáveis ​​​​fazem deste prato um dos mais desejados, principalmente às quintas-feiras, tem como base macarrão, batata, carne de boi ou frango picado ou alguma variante, com vegetais como ervilha, feijão e por fim decoram um pouco de salsa picada.

Lembra que eu falei do famoso molho picante andino, a llajua?

Durante o período do Império Incaico, a pimenta também foi utilizada como arma e como moeda de troca, o chamado rantii, descrito no livro Ajíes peruanos, sazón para el mundo (Pimentas peruanas, tempero para o mundo), ainda sem tradução.

Nativas dos Andes, a mais comum é a locoto ( Capsicum pubescens ), uma espécie que parece uma maçã, e possui sementes pretas. Atualmente é o mais utilizado no preparo da llajua e outros pratos pois é mais comum de encontrar, já que é produzido em larga escala.

A capsaicina é o que faz a pimenta arder, certo? A capsaicina está concentrada principalmente na placenta da pimenta, aquela membrana de cores mais clara que une as sementes à polpa. Agora, um pouquinho de anatomia, pra entenderem:

As sementes ficam grudadas na placenta, por isso muita gente acha que elas fazem arder. Pra arder menos, é só abrir e remover a placenta com uma faca afiada. E não adianta tomar água, a capsaicina é lipossolúvel, ou seja, solúvel em óleo. Não aguenta? Bebé leite!

O gênero Capsicum é pertencente à família Solanaceae, principalmente à família Silva das plantas, abrigando diversos alimentos, como beringela, jiló, tomate…

Composto por cerca de 30 espécies, apenas 5 são domesticadas de fato, com algumas variedades entre si de ardência.

Aqui alguns exemplos comuns:

  1. annumm (pimentão, jalapeño, páprica)
  2. baccatum (dedo-de-moça, ají, cumari, cambuci)
  3. chinense (biquinho, bode, habanero)
  4. frutescens (malagueta)
  5. pubescens (locoto, pimenta-maçã)

Dicas de plantio que funcionam para diversas espécies:

Plante em ambientes quentes, é uma planta tropical

Quanto mais sol, melhor!

Mantenha o solo úmido, cubra com folhas, cascatas, serragem

Poda regular, ajuda na renovação foliar

Solo fértil, bastante adubação, pH neutro

As folhas também são comestíveis! Podem ser usados ​​em chás, refogadas, na sopa e em saladas, além de servir como remédios em unguentos, pastas, pomadas para tratar furúnculos, artrites, etc.

Por enquanto isso é quase tudo, mas poderia falar horas a fio sobre pimenta!

AH, AINDA EM TEMPO. Lembrem-se de uma coisa: não existiriam essas variedades se não fosse o conhecimento indígena de agricultura que atravessou séculos mesmo com a colonização. Agradeça aos indígenas, sobretudo hoje, por ter tantos sabores no seu prato.

VAMOS FALAR DE PIMENTAS? Segue (o resumo da) discussão sobre esse frutinho delicioso e picante, nativo de Abya Yala e que permeia diversas culturas indígenas, não só como alimento, mas algo de extremo valor espiritual, nutricional e cultural

Primeiro de tudo, vamos diferenciar os termos porque em português-brasileiro pode referir-se tanto às espécies do gênero Capsicum (as que vamos abordar neste tópico) como as do gênero Piper (ex. pimenta-do-reino, pimenta-preta) e do gênero Pimenta (ex. pimenta-da-Jamaica).

Em espanhol há muitos termos para a nossa pimenta nativa Capsicum , como pimiento , chile, ají, axí ou guindilla … E as pimentas do gênero Piper que são mais conhecidas como pimienta ou guindillo-de-Índia .

OFF: Aquele meme do Shrek tá errado.

Os moedores com pimenta-preta que europeus usavam contém piperina, em pequena quantidade.

O spray de pimenta é feito a partir da herança da capsaicina, encontrada nas pimentas do gênero Capsicum só após séculos da invasão de Colombo.

Por que é importante entender a diferença?

Porque, por muitas vezes, é de senso comum associarmos pimenta à gastrite, úlcera, inflamações intestinais, hemorroidas… Quem nunca ouviu piada sobre “arder pra entrar e pra sair”?

As pimentas Capsicum não causam problemas gastrointestinais. Elas contém capsaicina , aceleram o metabolismo, são antioxidantes, fonte de vitaminas C e E, potássio, fósforo, é antibiótica, anticancerígena e analgésica.

Leia mais no artigo, em inglês: Capsicum annuum (pimenta): Uma antiga cultura latino-americana com excelentes compostos bioativos e potencial nutracêutico.

Se você já tem uma inflamação nunca se deve exagerar com qualquer alimento, até pq normalmente acompanham outros temperos, como vinagre, sal etc, mas a ideia de que essa pimenta causa hemorroida, apesar de bastante difundida, é falsa.

Pimenta é antioxidante e libera endorfina; veja 5 benefícios do alimento

A pimenta-do-reino é um tipo que se deve evitar o consumo exagerado. Esse fruto contém piperina , e quando usado moído, penetra com mais facilidade nas paredes intestinais e na corrente sanguínea, podendo entupir artérias, causando hemorroidas.

A pimenta é uma riqueza!

E quem já sabia disso? Os povos indígenas!

A pimenta surgiu na região do Alto Peru, que inclui a bacia do Lago Titicaca, no território onde hoje é a Bolívia, segundo diversos estudos paleobotânicos que analisaram o DNA vegetal das espécies.

Surgiu na região mesoandina, nos vales da região de Cochabamba e Chuquisaca. O botânico W. Hardy Eshbaugh, professor na Universidade de Miami, encontrou nos anos 70 a semente silvestre mãe de todas as pimentas.

Lhes apresento a ULUPICA ( Capsicum cardenasii ):

Rita del Solar e Lupe Andrade, fizeram um estudo cuidadoo das pesquisas de Eshbaugh e publicaram a história no livro Ají, regalo de Bolívia al mundo (Pimenta, presente da Bolívia para o mundo), ainda sem tradução em português.

A ulupica (palavra de origem quíchua) surgiu cerca de 10 mil anos atrás, e até hoje é usada com tomate no preparo da llajua, o famoso molho picante andino. Entretanto, não é plantada em larga escala, apenas em hortas familiares, continuando a ser considerada um fruto silvestre.

CURIOSIDADE: Sabe quem amava pimenta? Che Guevara!

Ele comia bastante pimenta para aliviar suas crises de asma.

Sua última janta antes de ser capturada e assassinada foi um prato de sopa de maní (sopa de amendoim) com llajua, em La Higuera, na Bolívia.

São importantes pra diversos povos nativos, e se até hoje há este traje de comer pimenta, devemos a herança das culturas indígenas, que domesticaram várias espécies através dos séculos. Lembra que falei dos nomes da pimenta em espanhol?

30 formas distintas de chamar a los pimientos

A palavra “chile” para definir as pimentas vem do Náhuatl xilli, idioma dos povos astecas, e é muito utilizada no México atual, sul dos EUA e países da mesoamérica para se referir a pimenta. Nada a ver com Chile ok?

Sabe aquele prato apimentado, chili? O nome vem daí.

Os astecas tinham armas bastante sofisticadas, uma delas foi documentada em História Geral das Coisas da Nova Espanha , escrita por frei Sahagún.

A fumaça das malaguetas jogadas no fogo foi usada como gases lacrimogêneos são usados ​​hoje.

A pimenta tinha valor espiritual. Segundo Sahagún, no festival Huey Tozoztli, a deusa Chicomecóatl recebeu várias ofertas com alimentos, incluindo pimenta.

Na imagem, ao lado de duas espigas de milho, à esquerda dos pés de Chicomecóatl, há uma caixa com pimentas.

Já as palavras ají e axí vem do tronco arawak, do idioma dos povos Taíno das Antilhas, os primeiros a ter contato com Colombo, que chegou à ilha La Hispaniola, hoje atual Haiti e Rep. Dominicana. Conheceu a Capsicum annumm , espécie de pimentão, com mts variedades.

O frei Bartolomé de las Casas escreveu:

“Tinha muito algodão ali, […]muita mástique, […] tem também muito axí, que é a sua pimenta, que vale mais que a pimenta (a preta), e todos não comem sem, acho muito saudável: podem carregar 50 caravelas por ano naquela Española.”

No documentário feito pelo canal Trece Colombia, Ají, Plantas de Poder , vemos o povo Kubeo, que habitam a atual Colômbia e também o norte do Brasil, falando sobre a importância da pimenta na cosmovisão deles.

E para os povos andinos não é diferente. A pimenta é tão presente na nossa culinária, que tem registros em cerâmicas pré-colombianas. Essa cerâmica Nazca já tinha desenhos de pimenta, de cerca de 200 AEC (Museu Larco – Lima, Peru).

Muitas obras de povos andinos dos períodos Nazca, Moche, Paracas, Incaico entre outros estão disponíveis na galeria online do site do Museu Larco. Aqui vemos três esculturas onde a pimenta é representada. Visitem o Museu Larco !

Cieza de León, escreveu, sobre a importância da pimenta para os povos andinos:

“E para celebrar o Inti Raymi com maior devoção e solenidade, jejuaram 10 ou 12 dias abstendo-se de comer, e não dormir com suas esposas […]; e não comem pimenta nem trazem coca na boca […]”.

Em quíchua, pimenta é uchu, mesmo assim é bastante comum nos países andinos chamá-la de ají, influência dos comerciantes espanhóis. O nome uchu figura em vários pratos da culinária andina, como em Chiriuchu, Cariucho, Uchujacu, Fideos Uchu, pratos maravilhosos.

Chiri Uchu é o prato tradicional da cidade de Cusco que significa “pimenta fria” ou “picante frio” em quechua. Este prato é da época do Império Incaico e da colônia, combina do altiplano peruano, da costa e da selva, que o torna o prato estrela da culinária de Cusco, composto por algas, ovo, cuy (porquinho-da-índia), frango, charque (carne seca), chouriço (morcilla), batata, milho, queijo e locoto.

O cariucho na verdade, é uma guarnição, que pode ser consumida como prato principal. Pode ser uma batata grande cozida ou fatias de batata e molho de amendoim, servida com alface, ovo cozido e talvez tomate. Você também pode ter fatias de cebola. Pode acompanhar cuy (porquinho-da-índia), cortes de frango e carnes fritas.

Uchu Jacu, “farinha picante“ em quechua, na verdade é uma farinha tradicional de seis grãos ou mais que forma uma sopa muito tradicional da região de Cayambe, no norte da província equatoriana de Pichincha.

O ají de fideo ou mais conhecido como macarrão uchu (fideo uchu) é um prato muito original do vale boliviano, é um prato que, quem sabe preparar, se encontra diariamente nas feiras de alimentos. O seu sabor e picante incomparáveis ​​​​fazem deste prato um dos mais desejados, principalmente às quintas-feiras, tem como base macarrão, batata, carne de boi ou frango picado ou alguma variante, com vegetais como ervilha, feijão e por fim decoram um pouco de salsa picada.

Lembra que eu falei do famoso molho picante andino, a llajua?

Durante o período do Império Incaico, a pimenta também foi utilizada como arma e como moeda de troca, o chamado rantii, descrito no livro Ajíes peruanos, sazón para el mundo (Pimentas peruanas, tempero para o mundo), ainda sem tradução.

Nativas dos Andes, a mais comum é a locoto ( Capsicum pubescens ), uma espécie que parece uma maçã, e possui sementes pretas. Atualmente é o mais utilizado no preparo da llajua e outros pratos pois é mais comum de encontrar, já que é produzido em larga escala.

A capsaicina é o que faz a pimenta arder, certo? A capsaicina está concentrada principalmente na placenta da pimenta, aquela membrana de cores mais clara que une as sementes à polpa. Agora, um pouquinho de anatomia, pra entenderem:

As sementes ficam grudadas na placenta, por isso muita gente acha que elas fazem arder. Pra arder menos, é só abrir e remover a placenta com uma faca afiada. E não adianta tomar água, a capsaicina é lipossolúvel, ou seja, solúvel em óleo. Não aguenta? Bebé leite!

O gênero Capsicum é pertencente à família Solanaceae, principalmente à família Silva das plantas, abrigando diversos alimentos, como beringela, jiló, tomate…

Composto por cerca de 30 espécies, apenas 5 são domesticadas de fato, com algumas variedades entre si de ardência.

Aqui alguns exemplos comuns:

  1. annumm (pimentão, jalapeño, páprica)
  2. baccatum (dedo-de-moça, ají, cumari, cambuci)
  3. chinense (biquinho, bode, habanero)
  4. frutescens (malagueta)
  5. pubescens (locoto, pimenta-maçã)

Dicas de plantio que funcionam para diversas espécies:

Plante em ambientes quentes, é uma planta tropical

Quanto mais sol, melhor!

Mantenha o solo úmido, cubra com folhas, cascatas, serragem

Poda regular, ajuda na renovação foliar

Solo fértil, bastante adubação, pH neutro

As folhas também são comestíveis! Podem ser usados ​​em chás, refogadas, na sopa e em saladas, além de servir como remédios em unguentos, pastas, pomadas para tratar furúnculos, artrites, etc.

Por enquanto isso é quase tudo, mas poderia falar horas a fio sobre pimenta!

AH, AINDA EM TEMPO. Lembrem-se de uma coisa: não existiriam essas variedades se não fosse o conhecimento indígena de agricultura que atravessou séculos mesmo com a colonização. Agradeça aos indígenas, sobretudo hoje, por ter tantos sabores no seu prato.

Fonte: Juliana Padilha

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